Segundo a Atempa, oito homens entraram em uma sala online, fizeram gestos obscenos e proferiram ameaças ao grupo de 40 professores. Caso é investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos da Polícia Civil.
A Associação de Trabalhadores em Educação de Porto Alegre (Atempa) denunciou, na segunda-feira (10), ataques de cunho racista ocorridos durante uma reunião online, no dia 7 de agosto. De acordo com a associação, oito homens teriam entrado no encontro e exibido “telas com conteúdo pornográfico, áudios ofensivos e de cunho racista”.
O caso foi registrado na Polícia Civil e será investigado pela Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI).
Segundo a professora Carolina Hugo, da escola municipal Larry José Ribeiro Alves, cerca de 40 professores participavam de uma reunião sobre a temática da educação para as relações étnico-raciais. Entre eles, muitas educadoras do ensino fundamental que trabalham com projetos de conteúdo antirracista.
Por volta de duas horas após o início do debate, os homens entraram na sala virtual e passaram a mostrar as genitálias em frente à câmera.
“Eles diziam coisas como ‘negro tem que morrer’, ‘a gente vai acabar com este projeto’, ‘a gente tem que fazer o que o Jair mandou’, ‘lugar de negro é no inferno’, coisas assim”, descreve Carolina. “Ficaram repetindo uma série de frases racistas. Ficamos todos chocados.”
A professora afirma que ninguém reconheceu os homens e que eles não pareciam ser gaúchos. A suspeita dos professores é que eles chegaram à reunião devido ao conteúdo e desconheciam quem eram as pessoas envolvidas.
“Teve um que começou a dizer: ‘É reunião de escola! Não podemos fazer isso’. Mas outro disse que não. Deram a entender que só sabiam que era uma reunião com essa temática, que nem estavam muito inteirados do resto. Só sabiam que era uma reunião para discutir educação antirracista”, afirma Carolina.
Para o delegado André Lobo Anicet, titular da DRCI, não houve, em tese, invasão, pois o link de acesso à reunião era público e foi divulgado. Contudo, a polícia deve analisar os vídeos e o material disponível para dar encaminhamento sobre os crimes que foram praticados.
Recorrência de ataques deste tipo
Em julho, duas instituições federais sofreram ataques racistas durante atividades online. Em uma aula na unidade de Palmeira das Missões da Universidade Federal de Santa Maria, na Região Norte do estado, um grupo pediu para ingressar na reunião e começou a fazer diversos comentários de deboche e posteriormente ameaças aos participantes.
Além dos ataques verbais, eles teriam ameaçado roubar os dados de cartão de crédito dos participantes. A ocorrência foi registrada na Polícia Federal em Santo Ângelo, que instaurou um inquérito.
Já em uma webconferência do Instituto Federal de Educação do campus Restinga, na Capital, um grupo ingressou em um painel sobre racismo e reproduziu sons de macaco. Conforme a instituição, também foi compartilhada uma tela com imagens pornográficas.
Em nota (leia na íntegra abaixo), a Atempa repudiou os ataques e alertou sobre a recorrência de crimes deste tipo.
“Ataques como o ocorrido durante reunião da Atempa foram registrados em diversas reuniões, aulas e encontros virtuais nas últimas semanas. Nos posicionamos radicalmente contra cada ataque racista sofrido em quaisquer meios e ocasiões. Sabemos da potencialidade e força transformadoras do debate acerca da educação das relações étnico-raciais, sobretudo neste tempo em que crimes como este ainda violentam parte da população. Continuaremos construindo uma educação na perspectiva antirracista, com vistas à educação das relações étnico raciais, ainda mais firmes e cientes da importância desse trabalho”, afirma a entidade.
Para a professora Carolina, o caso motiva o grupo a insistir no debate sobre o antirracismo.
“Não é um ato isolado. Veio carregado de toda a violência histórica. Não à toa este projeto foi atacado nesta reunião. Ficamos bem abalados, naquele momento, mas já retomamos o trabalho. E diria que, de certa maneira, superado o baque, serviu para nos motivar mais. Vimos o quão importante é este trabalho”, conclui.
Nota da Atempa
A Associação de Trabalhadores/as em educação de Porto Alegre, ATEMPA, denuncia e repudia ataque racista sofrido na reunião online realizada na última sexta-feira, 07/08.
O encontro das/dos educadores/as da rede, que reuniu cerca de 40 pessoas para discutir perspetivas e alternativas para a educação antirracista, foi invadido por grupo organizado. Foram proferidas frases como “preto tem que morrer”, “temos que fazer o que o Jair mandou”, “vamos destruir este projeto”, além da apresentação de imagens pornográficas durante a invasão.
Crimes e violência virtuais têm se intensificado ao longo da pandemia, devido às mudanças nas formas de nos organizarmos e reunirmos. O racismo, muito anterior à crise sanitária, seja na forma institucional ou via organização de grupos de extrema direta, os quais agem de forma violenta e coordenada, têm encontrado na invasão de reuniões online uma nova forma de ataque e prática criminosa.
Ataques como o ocorrido durante reunião da ATEMPA foram registrados em diversas reuniões, aulas e encontros virtuais nas últimas semanas. Nos posicionamos radicalmente contra cada ataque racista sofrido em quaisquer meios e ocasiões. Sabemos da potencialidade e força transformadoras do debate acerca da ERER – Educação das Relações Étnico Raciais, sobretudo neste tempo em que crimes como este ainda violentam parte da população. Continuaremos construindo uma educação na perspectiva antirracista, com vistas à educação das relações étnico raciais, ainda mais firmes e cientes da importância desse trabalho. Reafirmamos nosso compromisso com essa batalha e resistência.
A direção da ATEMPA informa que este ataque está sendo tratado através de todos os encaminhamentos necessários diante desse ato criminoso, em todas as esferas pertinentes.