‘Deu uma melhorada, mas não o suficiente’, diz dona de rede de lavanderias no Rio


Empresária se diz frustrada com o Pronampe, após ter acesso a apenas 25% do empréstimo a que teria direito. Dona de lavanderia do RJ diz continuar com faturamento muito baixo nesta fase da retomada
Há três meses sem pró-labore [retirada mensal de recursos que os sócios fazem de um negócio], a empresária Cláudia Medeiros Mendes diz que a vida financeira pessoal está paralisada. Dona de uma rede de lavanderias na Zona Sul carioca, ela segue com foco na sobrevivência do seu negócio e se diz frustrada com o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
“Foi um pouco frustrante, porque eu fui comunicada de que teria direito ao Pronampe e recebi uma previsão de 30% do faturamento bruto. E quando eu fui receber o empréstimo, ao invés de receber R$ 300 mil, que era o que eu tinha direito, eu só recebi R$ 75 mil”, contou a empresária.
O G1 está acompanhando as histórias de empreendedores que estão tentando sobreviver à crise provocada pela pandemia do coronavírus e pelo fechamento dos negócios necessário para conter a disseminação da doença. Veja aqui o que os mesmos empresários contaram em abril; o que disseram em maio, e os novos depoimentos este mês:
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Criado em maio por meio da Lei Federal 13.999, o Pronampe começou a ser liberado somente em junho para as micro e pequenas empresas. Na primeira semana de julho, tanto a Caixa Econômica Federal quanto o Banco do Brasil atingiram o limite de contratações do programa. Diante disso, o governo prometeu acréscimo de recursos.
Com três lojas em Copacabana, a rede de lavanderias de Cláudia não parou de funcionar desde o começo da pandemia. No início, ela viu seu faturamento cair em cerca de 70%. Com a retomada gradual das atividades econômicas em junho, a demanda por serviços voltou a crescer. Mas, segundo a empresária, o faturamento não ultrapassa 40% do registrado antes do isolamento social e, com isso, “as contas não fecham”.
“Esses R$ 75 mil [via Pronampe] com certeza ajudam, mas não resolvem a nossa necessidade do momento. Teríamos que utilizar esses recursos para pagar várias coisas que ficaram para trás. A minha própria vida particular ficou suspensa. Não tenho como tirar pró-labore – nem eu nem meu sócio”, enfatizou.
Fachada de uma das três lojas da rede de lavanderias Laundry Express, em Copacabana, da empresária Cládia Medeiros Mendes
Daniel Silveira/G1
Além de pagar contas atrasadas, Cláudia vai usar parte do recurso para comprar um veículo para entregas. Com a pandemia, a rede de lavanderias passou a concentrar a demanda no serviço por delivery, ampliando a área para coleta e devolução.
Cláudia ainda aguarda a análise de um segundo empréstimo via Pronampe. “Nós temos dois CNPJs, um da matriz, que tem uma filial, e outro para a terceira loja. Estou com esperança de conseguir [o crédito] para ele também”, destacou.
Empregos ameaçados
A rede de lavanderias de Cláudia possui atualmente 18 funcionários. Eram 19, mas uma funcionária, que ainda estava em período de experiência, foi desligada no começo da pandemia. Diante da queda expressiva da demanda, ela reduziu a jornada de 12 funcionários e suspendeu o contrato de outros seis a partir do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, instituído pelo governo federal.
O prazo de suspensão dos contratos e redução de carga horária se encerra em julho. A empresária prevê a volta à jornada habitual de dois funcionários e o retorno ao trabalho de apenas um dos seis que tiveram o contrato suspenso. A expectativa é que o governo prorrogue por maior período a Media Provisória que tornou viável reduzir e suspender os contratos.
“Deu uma melhorada [na demanda por serviços de lavagem], mas não o suficiente para justificar o retorno de todo mundo às lojas. A gente não sabe o que fazer [com os funcionários]”, disse a empresária.
Três das funcionárias que, segundo Cláudia, estão no grupo de maior risco para complicações decorrentes da Covid-19, serão mantidas afastadas do trabalho. “Nós seguiremos pagando 30% dos salários delas, mas elas não vão trabalhar”.
“Com essa situação de hoje, se ela permanecer muitos meses, nós não temos condição de suportar. Porque eu tenho todos esses funcionários que estavam com benefício do governo, agora em julho, estão todos de volta e eu não tenho trabalho para todos esses funcionários”, enfatizou.
Futuro é uma incógnita
Cláudia ressaltou que a pandemia a tem obrigado a se reinventar constantemente e que o futuro do seu negócio é uma incógnita.
“É uma armação que a gente tem que fazer a cada 15 dias, praticamente”, disse, se referindo à adequação de protocolos de prevenção ao coronavírus, ações de publicidade ao serviço delivery, entre outras medidas que precisam ser revistas periodicamente.
A empresária Cláudia Medeiros Mendes, dona de uma rede de lavanderias em Copacabana, Zona Sul do Rio, disse nunca ter enfrentado crise tão severa em 30 anos de negócio
Daniel Silveira/G1
Embora o delivery esteja sustentando cerca de 85% do faturamento atual, Cláudia diz que a pandemia ainda afasta clientes. “As pessoas ainda estão muito temerosas. Eu tenho muito cliente aqui, em geral idosos, que não querem contato com ninguém e nem o nosso delivery estão aceitando”, apontou.
Muito dependente das atividades turísticas, a rede de lavanderias aguarda a reabertura plena dos hotéis, que são seus principais clientes. Cláudia se diz otimista com o retorno dos turistas à Cidade Maravilhosa para que volte a equilibrar as contas. Sem essa retomada efetiva, o prognóstico é o corte de funcionários.
“Se até o final do ano a coisa não melhorar, eu vou ter que demitir. Se o mercado não reagir, sobretudo o turismo, eu não vou ter alternativa”, disse.

By Josias Menezes

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