O baixo índice de vacinação este ano no País é preocupante, diz a Sociedade Brasileira de Imunizações

Pelo menos 12 estados anunciaram que vão continuar a vacinação. A consequência de não cumprir as metas de imunização é o surto de doenças que o país já dava como erradicadas.

Tomar vacina estava na lista de pendências escrita pela pandemia. “Pelo meu caso, três estavam atrasadas”, conta uma senhora. A carteirinha do Artur também foi atualizada. “Chora um pouquinho, mas fica tudo bem. É a picadinha do amor”, diz a mãe. A equipe da Unidade Básica de Saúde do bairro deles foi até o condomínio para vacinar os moradores.

A Sociedade Brasileira de Imunizações diz que, em 2020, a situação é preocupante. No caso de algumas vacinas para crianças de até um ano, a cobertura está abaixo de 60%. O ideal, dependendo da vacina, é 90 ou 95%. Mas a entidade diz que a vacinação no Brasil vem diminuindo desde muito antes da pandemia: há mais ou menos cinco anos.

As consequências são os surtos de doenças que não existiam mais no país, como sarampo. O médico sanitarista Adriano Massuda, professor da Fundação Getúlio Vargas, destaca a importância da vacinação.

“A sociedade tem que ter noção do impacto econômico e social, das consequências da desestruturação de programas muito bem-sucedidos no Brasil, como o programa de vacinação. E essas consequências vão custar caro, vai custar dinheiro e vai custar também um sofrimento importante para as famílias das pessoas que eventualmente possam ter uma doença que poderia ser prevenida”, avalia.

A ciência tenta combater outro vírus de efeitos desastrosos: o das fake news. Elas existem desde que surgiu a primeira vacina, contra a varíola, há mais de 200 anos. Muitas pessoas não queriam tomar a vacina porque ela foi desenvolvida a partir da varíola bovina. As “fake news” da época, que corriam de boca em boca, diziam que quem tomasse a vacina ficaria com cara de boi.

A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações Carla Domingues diz que esse mal tem se agravado. “As fake news, as notícias falsas, contribuem para a insegurança da população. Você começa a acreditar que vacina faz mal para a saúde, e que não é verdade. Nós estamos falando que vacina é um sinônimo de prevenção e cuidado da saúde”, explica a epidemiologista Carla Domingues.

Uma das maiores preocupações agora é com a poliomelite. Segundo o Ministério da Saúde, apenas 40% das crianças de um a cinco anos foram vacinadas. É que a população perdeu o medo da doença porque quase não é mais vista por causa da vacina.

Uma prevenção que ainda não existia quando o seu Carlos, hoje com 69 anos, era bebê. E ele foi contaminado pelo vírus da pólio. “Eu me lembro da poliomielite quando eu já estava maiorzinho, três ou quatro anos, que eu não conseguia andar. Porque eu ia andar e a perna não obedecia direito, eu andava e caía muito”, conta o pediatra Carlos Brunini.

O impacto da doença definiu a vida do irmão, quase dez anos mais velho. “Daí eu ouvi dizer que natação era muito bom para curar a poliomielite. Não deu certo. Daí eu falei: bom, então o jeito é eu estudar medicina para ver se eu consigo fazer alguma coisa pelo meu irmão”, relembra o irmão de Carlos.

Eles se tornaram pediatras para ajudar outras crianças. Contam essa história para lembrar que a prevenção é o único tratamento. A natação? Dizem que ajuda, mas, para voltar para a piscina, dependem agora de outra vacina, a da Covid-19. “Eu pretendo voltar logo a nadar, estou afastado por conta aí da minha idade”, conta Carlos. “A hora que começar a voltar, nós pretendemos estar juntos, os dois irmãozinhos nadando novamente juntos. Essa é minha perspectiva”, diz o irmão.

By Josias Menezes

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