O presidente da França disse que houve manipulação de suas declarações sobre as caricaturas de Maomé

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que suas declarações sobre as caricaturas de Maomé foram manipuladas, já que “líderes políticos e religiosos” deram a entender que esses desenhos são “uma manifestação do governo francês” contra o Islã.

“As reações do mundo muçulmano ocorreram devido a muitas mentiras e ao fato de que as pessoas entenderam que sou a favor dessas caricaturas”, disse Macron em entrevista à rede árabe Al-Jazeera.

“Sou a favor de podermos escrever, pensar e desenhar livremente no meu país, pois considero isso importante, representa um direito e as nossas liberdades.”

O presidente afirmou ainda que a campanha contra os produtos franceses gerada pela polêmica é “indigna” e “inadmissível”. A campanha “tem sido feita por alguns grupos privados porque não entenderam e se basearam em mentiras sobre as caricaturas, às vezes por parte de outros líderes. É inadmissível”, completou.

O comentário de Macron sobre os desenhos foi feito em 21 de outubro, em uma cerimônia no campus da Universidade Sorbonne, em Paris, para homenagear o professor Samuel Paty, decapitado na periferia da capital francesa por um extremista islâmico.

“Nós continuaremos, professor, nós defenderemos a liberdade que você ensinava tão bem e nós levaremos a laicidade. Nós não renunciaremos às caricaturas e aos desenhos”, disse Macron no funeral.

ONU

Na última semana, o Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, o espanhol Miguel Ángel Moratinos, fez um apelo em nota pelo “respeito mútuo por todas as religiões e crenças”.

A declaração foi dada em um momento de tensão entre o presidente da França, Emmanuel Macron, e lideranças muçulmanas do mundo, inclusive o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pela defesa do francês à publicação de charges do profeta islâmico Maomé.

Em comunicado, a agência da ONU disse que Moratinos “acompanha com grande preocupação as crescentes tensões e casos de intolerância desencadeados pela publicação de caricaturas satíricas do profeta Maomé, que os muçulmanos consideram um insulto e profundamente ofensivo”.

“As caricaturas incendiárias também provocaram atos de violência contra civis inocentes que foram atacados por sua religião, crença ou etnia”, lamentou Moratinos, que já ocupou o cargo de ministro de Relações Exteriores da Espanha.

“Insultar religiões e símbolos religiosos sagrados provocam ódio e extremismo violento, levando à polarização e fragmentação da sociedade”, acrescentou.

O presidente francês vem defendendo o direito de se fazer caricaturas de figuras religiosas como o profeta Maomé após o assassinato de Samuel Paty na periferia de Paris. A vítima era um professor que havia mostrado um desenho do líder islâmico durante aula sobre liberdade de expressão.

Em resposta, houve protestos pelo mundo contra as declarações de Macron. No islamismo, caricaturar Maomé ou representá-lo com desenhos é considerado uma heresia. O presidente turco também criticou duramente as declarações do francês, sobretudo depois que o jornal satírico Charlie Hebdo fez uma charge do próprio Erdogan. Houve pedidos por boicotes a produtos da França.

By Josias Menezes

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